sábado, 5 de fevereiro de 2011

SARNEY FALSIFICA DATAS HISTÓRICAS

POR HELIO FERNANDES*

Já escrevi tanto sobre o Sarney, desmascarando suas afirmações, a subserviência à ditadura, o malabarismo de se transformar em presidente, sem eleição, sem voto e sem povo, no que deveria ser a transição democrática. Mas não posso deixar passar a mistificação do seu discurso de posse.

"Fui eleito deputado federal em 1955, sou parlamentar há 56 anos". Ninguém pode (ou poderia) ter sido eleito qualquer coisa em 1955, pela razão muito simples de que no Brasil não existe eleição em ano impar. Como todos os mandatos são fixados em duração par, "eleição" em 1955, só mesmo para Sarney.

O que aconteceu realmente: ele foi candidato a deputado em 1954, não se elegeu, ficou com segundo suplente. Manobrando a politicalha e a legislação, conseguiu afastar os dois deputados que estavam na frente dele, se empossou no final de 1955, início de 1956.

"Estou há 35 anos no Senado, consegui ultrapassar Rui Barbosa, nosso patrono". Que farsante. Quis chamar a atenção se comparando a Rui, através dos mandatos no Senado. Acontece que Rui tinha caráter, coragem, convicção. Além do mais não era profissional de se eleger senador.

O primeiro mandato de Rui, conquistado em 15 de novembro de 1890, um ano depois da derrubada do Império. Antes não havia eleição para o Senado, o imperador nomeava os senadores.

Rui fez então o anteprojeto da Constituição que seria a de 1891 e foi o relator na Constituinte. Pela indireta, Deodoro foi eleito "presidente", e Floriano, "vice" e "ministro da Guerra".

Em novembro romperam (como coronéis, vieram brigados da estranha guerra do Paraguai), fizeram as "pazes" para dominarem a República. Nesse novembro do mesmo ano de 1891, se desentenderam, Deodoro acreditou que tinha força, fechou o Congresso, prendeu parlamentares, ministros, advogados. Ficou 20 dias no poder, foi derrubado por quem tinha o poder militar, que era Floriano.

Pela Constituição de 1891 (a primeira da República) se a Presidência vagasse por qualquer motivo na primeira metade do mandato, assumia o "vice", que em 30 ou 60 dias teria que convocar eleições. Floriano assumiu, e disse absurdamente: "Ficarei até o fim do mandato", nem disse quando seria.

O senador Rui Barbosa então exigiu a eleição que a Constituição determinava, Floriano nem ligou.

Ditatorialmente, o "Marechal de Ferro" começou a perseguição geral, mas principalmente a Rui. Este renunciou aos quatro anos de mandato que ainda tinha, se asilou em Buenos Aires, depois em Montevidéu.

Sarney faria isso? Na eleição de 1896, Rui se elegeu novamente senador, Floriano já havia morrido. Nessa época, existia a famosa "Comissão de Ratificação", governadores, senadores, deputados federais e estaduais, precisavam de "ratificação". Só o presidente da República escapava, tomava posse imediatamente.

A Bahia tinha três homens de projeção nacional. Luiz Viana (o pai, o pai, grande figura), JJ Seabra, senador, e Manuel Vitorino, vice de Prudente de Moraes. Estes dois não queriam "ratificar" o mandato de Rui, o governador ameaçou: "Vocês querem cassar o maior brasileiro vivo? (Já era chamado assim) Serão linchados". Rui tomou posse, os dois recuaram.

Em 1910 Rui foi candidato a presidente numa eleição histórica, não ficou marcando tempo no Senado. Perdeu, mas 1910 é lembrado até hoje. Voltou ao Senado e em 1914, novamente candidato a presidente. Como só havia um partido, o Republicano, se candidatou como independente, possibilidade que acabou em 1934.

Tendo rompido com Pinheiro Machado, também senador, que diziam "fazia presidentes", fez discurso violentíssimo, renunciou à candidatura a presidente. Em 1918 não quis ser nada, especulava-se que disputaria a presidência. Com medo de Rui, foram buscar a grande figura de Rodrigues Alves, que estava morrendo e não assumiria.
 ***
 PS - Em 1919, finalmente Rui foi candidato, aos 69 anos, contra Epitácio Pessoa, que estava em Paris e nem saiu de lá.

PS2 - Logo depois da eleição, Rui renunciou à vida pública, Morreria em 1923, com 73 anos. Por favor, vejam se descobrem afinidade, lealdade, dignidade entre Sarney e Rui?

(*) Jornalista, fundador da Tribuna da Imprensa

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