O
jogo político brasileiro chegou ao estágio da soma zero. O embate entre governo
e oposição não terá vencedor. Apenas conseguirá paralisar por completo a
política e a economia, um verdadeiro abraço de afogados que revela, em um
canto, um governo imobilizado, sem nenhuma capacidade de reação; no outro, uma
oposição vociferante, sem nenhuma estratégia e, portanto, sem nenhuma
capacidade de avançar.
Na
vida de um país, esses momentos de impasse são rompidos por guerras, golpes
militares ou pelo bonapartismo – a figura política que paira sobre os partidos
e conquista espaço e rompe a inércia a golpes de discurso.
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Dito
isso, vamos analisar o papel de Cid Gomes, ontem na Câmara Federal.
O
até então Ministro da Educação Cid Gomes é estouvado, como todos os Gomes. Não
tem um pingo de verniz político, de jogo de cintura, da hipocrisia que é
matéria prima essencial no jogo político.
Ou
seja, é o perfil dos sonhos de grande parte da opinião pública atual.
Ontem,
enfrentou o símbolo máximo da hipocrisia política nacional, o presidente da
Câmara Eduardo Cunha. Foi chamado de mal educado, chamou-o de achacador. Ambos
estão certos, mas o adjetivo pespegado em Cunha deprecia, em Gomes, eleva,
ainda mais em um momento em que a crise política faz de políticos a
manifestantes de rua abrirem mão dos rapapés.
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Cid
disse o óbvio. A Câmara elegeu o pior exemplo dos vícios parlamentares para sua
presidência. O moralismo exacerbado da mídia mostrou uma seletividade ao nível
da desfaçatez, ao esconder a biografia de Cunha de seus leitores. Cunha não é
qualquer um, não é um mero deputado picareta, como muitos que pululam no baixo
clero. Ele é O deputado suspeito, sem limites.
Estimulado
pelo irmão Ciro Gomes, Cid fez o que grande parte dos eleitores gostaria de ter
feito. Desnudou o rei no próprio palanque do Congresso.
Não
é para qualquer um abrir mão de um cargo de Ministro pelo prazer de enfrentar o
homem mau.
A
maneira como enfrentou Cunha lembra um James Stewart desafiando Lee Marvin (e
sendo conduzido pelas mãos de John "Ciro Gomes" Wayne) no clássico “O
homem que matou o facínora”. Aliás, era uma realidade tão diversa que mesmo com
uma interpretação clássica, Marvin não mereceu aparecer nos destaques dos
cartazes. Porque era bandido.
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Cid
perdeu o cargo de Ministro e não haveria outro modo, para um governo que
enfraqueceu-se tanto que se tornou refém não de um PMDB qualquer, mas do PMDB
de Eduardo Cunha.
Mas não perdeu o jogo.
Seu
atrevimento é como chuva no deserto, abrindo uma avenida para a candidatura de
seu irmão Ciro Gomes.
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Não
se trata apenas de um político brandindo o discurso antipolítico.
Há
um enorme vácuo do centro-esquerda à esquerda, com o esgotamento do ciclo
petista e a incapacidade do partido em definir um discurso minimamente efetivo
ou um candidato competitivo. E Ciro atende à essa demanda, além de ser
amigo de Lula.
Mais
que isso, há um enorme vácuo de personalidades – como tal, do personagem que
corre fora da raia institucional, dos rapapés políticos, que não tem medo de
correr riscos para falar o que pensa, não se curva nem a pressões de partidos
nem da mídia.. E seu nome não sofre a resistência que se abriria contra
qualquer nome que surja do PT.
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A
política é como as nuvens no céu, já explicava o sábio Magalhães Pinto. Pode
ser que daqui a algum tempo o desenho seja outro. Mas, nesse momento, há uma
enorme possibilidade das nuvens se formarem em cima de Sobral.
Não
se está entrando em juízo de valor sobre esse tipo de candidatura.
Pode-se
apontar um sem-número de inconvenientes em um candidato com esse perfil. O
próprio exemplo do voluntarismo de Fernando Collor é didático. De minha parte,
me arrepio ao não conseguir enxergar um horizonte de pactuação.
Mas
o momento, mais que nunca, é para candidatos com esse perfil. E, no horizonte
político atual, Ciro é candidato único a interpetar esse personagem.
PS
- Os comentaristas inteligentes (maioria nesse blog) que desculpem a
redundância, para os menos informados: não se está apoiando ou desapoiando Cid
GOmes. Está-se constatando os efeitos de sua catilinária.
GGN
- Luí Nassif
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